Para a Leitura Corporal, a otite é uma manifestação que espelha a dificuldade do Indivíduo em compreender e interpretar os estímulos sonoros. Acontece quando se atinge um estado de saturação em relação a conversas, orientações e discursos que não permitem uma compreensão ou conclusão aceitáveis, seja pela ausência de respostas, pela duplicidade da informação recebida ou pelo distanciamento entre o que se escuta sobre um contexto ou situação e o que é percebido e experimentado pelo Indivíduo.

Trata-se, primariamente, de um recurso de defesa. É um sinal de que se está cansado de ouvir falas incoerentes, que parecem incompreensíveis ou injustificáveis. Não é por acaso que as crianças manifestem tanta otite. Enquanto seres absolutamente perceptivos, encontram-se sempre atentas às conversas vazias, às desculpas e dissimulações. E quanto mais os adultos ao seu redor acobertam os verdadeiros conteúdos vigentes, mais as crianças captam e representam as incongruências entre o que se diz e o que se vive no seu contexto.

O melhor remédio para a otite é a fala. O Indivíduo, ao dizer que não compreende e não pode processar o que escuta, cria as condições para o esclarecimento do que foi dito. O externo pode contribuir para o processo de cura da otite estimulando o exercício da fala, retornando aos assuntos que antecederam sua manifestação, identificando o que não foi assimilado, corrigindo informações e completando dados.

Para os bebês que ainda não falam, a Leitura Corporal considera que é de grande valia a estimulação, na intenção, de que eles chorem pela dor de ouvido e pelo dor do que foi ouvido. Afinal, a otite traz uma grande oportunidade para limpar o campo de comunicação de todos os envolvidos, abrindo espaços para novas escutas, estimulando novas falas, e assim facilitando a construção de um ambiente mais claro, coerente e verdadeiro.