Para ordenar o pensamento e criar maiores possibilidades de compreensão, a Leitura Corporal organiza o psiquismo humano (e sua representação no corpo físico) em diferentes campos, cada qual com sua atividade predominante. Uma das divisões básicas é entre a Pessoa – que guarda as características naturais do indivíduo – e a Personalidade – a parte do psiquismo que, a partir daquilo que o indivíduo percebe e aceita de si mesmo, estrutura as formas de se expressar.

A distinção entre um campo mais autêntico e outro campo mais elaborado tem uma importância fundamental quando pensamos do tema dos desejos. De onde eles vêm? O que fazer com tudo aquilo que queremos?

Aos olhos da Leitura Corporal, existe uma diferença entre os desejos da Pessoa e os desejos da Personalidade. Para qualquer que seja a instância geradora da pulsão, o primeiro passo é a correta nomeação, isto é, a busca do significado que, com mais lealdade, traduz o que está pulsante no interno.

O desejo que vem da Pessoa não hesita. Ele é certeiro: vem com nome, telefone, endereço e CPF. O sorvete é de morango, o vestido é longo e vermelho, a casa tem que ter uma varanda – o desejo da Pessoa tem uma forma que vem de dentro.

Se o desejo vem acompanhado por incertezas quanto a sua especificação e pode ser facilmente substituído, é mais provável que seja um desejo da Personalidade. O desejo é de sorvete, mas depende do que estiver disponível; o que mais importa é a marca e não a roupa – o desejo da Personalidade é difuso e moldável às tendências do momento.

Se há Pessoa e Personalidade, há espaço para todo tipo desejo. Porém, dado o atual contexto de insatisfação generalizada, atentar para a qualidade do desejo é de ordem vital. Afinal, o que pode verdadeiramente nutrir por um tempo maior que o imediato?

Existe uma tendência em reprimir os desejos da Pessoa quando eles não correspondem ao que é socialmente aceito. Aos olhos da Leitura Corporal, essa é a principal razão de sintomas na parte de trás do corpo (saiba mais!). O peso que se sente nas costas quase nunca é fruto do “peso da vida”, já que a vida se faz para cada indivíduo segundo o tamanho que ele pode suportar. O mais comum é que o peso nas costas seja efeito da contenção de si, das próprias características e vivências emocionais, que são contraídas por serem tidas como inadequadas.

A supressão sistemática dos desejos da Pessoa sobrecarrega a Personalidade na busca por compensações. Para a conquista do equilíbrio, é preciso que os desejos da Pessoa sejam identificados, descritos (principalmente para si mesmo) e atendidos (mesmo que simbolicamente).

Atinando para e validando os desejos da Pessoa, veremos que na verdade não precisamos desorientar com tantos quereres. É o vazio de si mesmo que nos lança na busca desenfreada pela satisfação da Personalidade. Preenchidos pela própria essência, sobra calma para querer, sobra tempo para satisfazer-se.

E, além disso, se é desejo genuíno e se o indivíduo dá conta de bancar, basta colocar-se no caminho de sua realização e confiar. Afinal, o que vem da Pessoa é oferta garantida do universo. Já está: é só uma questão de querer e materializar.