Para o nosso atual padrão de humanidade, a convivência ainda não é algo que saibamos praticar com fluidez. Muitas vezes, as obrigações e os ideais atribuídos aos relacionamentos sobrepõem-se aos verdadeiros sentires e à liberdade de expressá-los, o que, aos olhos da Leitura Corporal, cria obstáculos para a construção de reais vínculos de cumplicidade e afinidade. E é por isso que o sarampo e a catapora se manifestam com tanta frequência: são patologias, como os exantemas de uma forma geral, que trabalham no Indivíduo a consciência de que não é só possível, como desejável, adaptar-se ao e sentir-se parte do ambiente em que se escolheu viver sendo quem se é, sentindo o que se sente, e expressando a própria verdade.

O sarampo e a catapora dão continuidade ao trabalho iniciado pela icterícia, que é abrandar no Indivíduo os efeitos das expectativas e planejamentos que foram feitos em torno dele. Para aqueles que esperam a chegada de um novo membro na família, é quase que inevitável idealizar condutas, valores e preferências. Mas a criança tem todo o direito de buscar outras referências mais próximas de si, e a icterícia é uma grande aliada na distinção entre o que é próprio e o que é projeção do outro.

O sarampo, especificamente, efetua uma limpeza dos registros autodepreciativos que possam estar vinculados ao sentimento da criança de ter, com a sua chegada, alterado a vida dos pais ou cuidadores. Ele ativa a consciência de que ninguém é gerador de problema para ninguém, pois a construção de uma história comum é uma escolha compartilhada por todos os envolvidos. O sarampo aviva o sentimento de cumplicidade em todo o ambiente e estimula a transcendência das obrigações atribuídas à consanguinidade, abrindo espaço para o desabrochar de relações verdadeiramente afins.

A catapora é um mecanismo de proteção ao vício da formalidade. Sua intenção é aflorar o direito e a liberdade de se fazer parte, sem que para isso seja necessário impregnar-se com as regras, os valores e os hábitos que condicionam o seu entorno. A catapora traz para a criança imunidade a tudo que foi adotado em seu contexto a partir de treinamentos e convencimentos, e que por isso são formalmente impostos, sem que seja dada uma verdadeira atenção aos sentidos de tais normas e costumes para a vida de cada um.

A Vida é pura inteligência, e sabe que a grande maioria dos seres humanos precisam ajustar suas expectativas de troca e de envolvimento para que possam conviver sem se colocar “à mercê” daquilo que é mais habitual no seu entorno. Com o sarampo e a catapora, a Vida ajuda a humanidade a ajustar sua capacidade de adaptação ao meio, aos outros e às situações, sem que se perca a configuração da própria identidade e as referências da própria trajetória.

O sarampo e a catapora ensinam a estar no coletivo sentindo-se no direito de ter características, opiniões e interesses próprios. Sabendo aproveitá-los, criamos as bases para a verdadeira cumplicidade e afinidade. Cada um sendo quem é, estaremos cada vez mais juntos!