A decepção é um sentimento doloroso e, muitas vezes, de difícil processamento. O indivíduo que se decepciona pode sentir-se vitimado pela situação, vendo no externo a razão do seu sofrimento. Mas aos olhos da Leitura Corporal, para que uma situação decepcionante se instale é preciso contribuir para tal, mesmo que seja com o ato de não ver, de não considerar ou de não se colocar quando é preciso.

Não há como adentrar em um estado de decepção sem ter praticado resistência ao contato e à aceitação da verdade. Quando lidamos com um contexto e com uma pessoa segundo as características que apresentam, podemos ter constatações frustrantes, mas dificilmente nos decepcionamos. Para decepcionar-se é preciso rejeitar indícios e evidências de que a realidade com a qual estamos lidando é diferente daquela que projetamos. É preciso, em outras palavras, ancorar-se mais nas próprias expectativas do que nos fatos tais como são.

Quanto mais negamos o que percebemos e nos ancoramos na esperança da mudança alheia, mais vulneráveis nos tornamos às mágoas geradas pela condição de decepcionado. Na funcionalidade orgânica, uma manifestação que trata o quadro da decepção com o outro é a incontinência urinária. Sua atuação estimula o reconhecimento da atitude pessoal que favoreceu a vivência de ressentimentos, promovendo a compreensão de que se é também responsável pela própria decepção. Quando está no outro a causa da nossa tristeza, são pequenas as chances de resolução. Mas na apropriação das atitudes pessoais, todas as soluções se fazem possíveis. É isso que a urina faz ao descer pelas pernas: marca o território da própria existência, trazendo propriedade da própria história.

É claro que podemos influenciar a ação do outro. A mudança, porém, é uma competência que só cabe a si. Os outros são os outros e, diante de suas atitudes, cabe a cada indivíduo apreciar, sentir-se e se conduzir da melhor maneira para si mesmo.