Para a Leitura Corporal, a inapetência e a compulsão, que a princípio parecem manifestações opostas, estão em sua origem ligadas a uma experiência comum: o entendimento de que existem, no outro ou no externo, impedimentos para a condução do próprio movimento de vida.

Na vivência da inapetência, o indivíduo encontra-se saturado de ordens para cumprir e de demandas para atender (saiba mais). A recusa dos alimentos representa a vontade de dizer não ao que vem de fora e a necessidade de dar vazão às escolhas e quereres pessoais.

Na compulsão, o indivíduo vive ansiosamente desejos e expectativas, mas teme que obstáculos criados por terceiros possam impedir sua realização. Pelo medo de não conseguir satisfazer-se, ele armazena ou disfarça suas vontades, oferecendo-se mais compensações que saciedades. O quadro da compulsão alimentar é efeito do vazio criado pelo desvio dos próprios desejos.

É fato que os contextos e os outros podem ser inibidores da autonomia e da liberdade para a representação e para a conquista da guiança e da querença pessoais. Mas mais forte que as circunstâncias é a capacidade que todos têm de impor limites à atuação alheia, criando os cenários que podem trazer verdadeira satisfação.

Tanto na inapetência quando na compulsão, o que o indivíduo necessita é de espaço, de incentivo e confiança para assenhorar-se dos próprios movimentos, nutrindo-se da habilidade de ser o guia e o principal autor das próprias conquistas.