Na Humanidade de hoje, observa-se o predomínio de um olhar voltado para fora, para o outro, para o mundo social. As pessoas, muitas vezes, organizam suas vidas e seus comportamentos de acordo com o que se espera delas, ou conforme as projeções que elas próprias criam ao focar sua atenção nas direções externas. E nesse contexto, surgem seres que, aos olhos da Leitura Corporal, escolheram desenvolver nessa existência mais o contato consigo que com os outros. Seres que, não por acaso, encontram muitas dificuldades de troca e de interação, nesse universo onde a habilidade de estar consigo é desprivilegiada diante das exigências do social.

Na linguagem da Leitura Corporal, o autismo é uma manifestação nascida de uma pelve perfeita, em uma composição corporal e emocional onde as funções do tórax – região que organiza a sociabilização, o processo de troca e a convivência – encontram-se em estado de latência. Os autistas vivem uma desproporção diferente daqueles tidos como normais. Praticam com destreza a intimidade consigo, tendo pouco desenvolvidas suas capacidades de relação com o externo, enquanto a grande maioria dos indivíduos sabe estar mais com os outros que com si mesmo.

Para a Leitura Corporal, a principal dificuldade no contato com os indivíduos autistas está nesse descompasso entre o que é neles proeminente e o que é mais ressaltado no ambiente onde vivem. Para adentrar o rico universo que eles certamente trazem, é preciso antes de qualquer coisa desenvolver as habilidades pélvicas. Aprendendo com eles a estar à vontade consigo, cria-se uma base comum a partir da qual a troca pode começar. Podemos ensinar-lhes as atividades do tórax, enquanto eles nos ensinam os pilares para a verdadeira comunicação. Pois pelve e tórax trabalham juntos, e a vivência da intimidade, com conforto e autenticidade, é o que possibilita e garante a interação que nutre e satisfaz.

Comunicar é uma habilidade que estamos quase todos, ainda, por desenvolver. Estejamos atentos àqueles que trazem o que nos falta, pois eles sempre vêm com algum propósito, para si e para a humanidade. Que sejam muitos bem vindos esses seres cheios de consciência pélvica, e que sua presença nos auxilie a equilibrar e a evoluir a convivência, de cada um consigo e entre todos nós.